terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Episódio 710: Antes do pôr-do-sol


Capeside. Dia nublado. A cidade está muito calma. Poucas pessoas na rua. No apartamento do Doug e Jack a vó põe a Amy para dormir numa cadeira de balanço, enquanto os pais adotivos da garotinha estão no trabalho. No apartamento da frente, Pacey e Andie estão estirados lado a lado no sofá velho de frente para a tv, ambos alheios ao que se passa na tela. Cada um preso em seus pensamentos. No B&B Potter’s o clima é um pouco mais deprimente. Os hóspedes chegam com o verão, no entanto a animação passa despercebida, principalmente na ala leste da pensão, ou seja, no quarto da Joey. No outro lado do riacho, Dawson retira a escada que dá para a janela da Lily, ao mesmo tempo em que sua pequena irmãzinha chorominga em negação ao fato.

Abertura de Dawson’s Creek – 7ª temporada. Música: I don’t want to wait.

Dawson está dentro da garagem guardando a velha escada. Lá fora, sentada no primeiro degrau da varanda, de frente para a casa, Lily reclama baixinho ao celular.
Lily: - Sim Alexander, ele tirou nossa escada. Você terá que subir por dentro de casa a partir de agora.
Alexander: - Não chora, Lily. Eu não me importo, ok? Vou continuar a te visitar com a mesma freqüência.
L: - Você promete? – com a voz manhosa.
A: - Claro! Agora pára de chorar, senão eu desligo...
L: - Já parei, já parei. – limpando os olhos molhados.

A chuva fina começa a chegar no riacho do Dawson. O jovem, que está terminando de fechar a garagem percebe o chuvisco e faz sua irmãzinha entrar em casa. Ainda na varanda, Dawson avista uma pessoa chegando pela sua doca. Ele reconhece a Joey imediatamente. Pega um grande guarda chuva preto que está num canto da varanda e corre até o jardim para alcançar a Joey que vem vindo na chuva que caí agora bem mais intensamente.
Dawson: - Você ficou doida? – segurando o ombro da amiga e a cobrindo com o guarda chuva. Joey olha para ele e sorri docemente.
Joey: - Só me deixa entrar nessa casa, por favor.
Dawson a encaminhou calado. Os dois entram na varanda. Joey tira o casaco e senta no sofá de palha. Ela olha para a chuva durante alguns minutos. Nesse meio tempo o Dawson se limitou a tirar o seu casaco, a fechar o guarda chuva e encosta-lo no mesmo canto da varanda. Depois disso, ele olha para a Joey e ainda de pé a observa, analisando o perfil confuso da amiga. Ela finalmente pisca os olhos e olha para ele angustiada.
J (sorriso melancólico): - Eu estou tão mal assim?
D: - Não é isso.
J: - O que é então?
D: - Você deveria está em casa repousando.
J (pequeno sorriso): - Foi por isso que eu vim.
Só então o Dawson sorri, mas ainda um sorriso recatado.
J: - A minha vida sempre foi uma confusão. Houve aqueles momentos em que encontrei a felicidade, mas ainda assim estraguei as coisas...
D: - Joey...
J: - Não Dawson! Eu estou bem! – pausa, olha para a doca, fecha os olhos, sorri e olha para o Dawson – Quando a Jen chegou naquele táxi e eu percebi seus olhos embriagados pela beleza dela me deu um medo de perder o meu melhor amigo. Mas eu nunca te perdi, não foi?
Dawson caminha até o lado dela e confirma com a cabeça.
J: - Nunca te perdi, não é isso? – olha nos olhos dele profundamente – É. Eu sei disso. Nunca te perdi. Exceto agora. Não precisa olhar pra mim desse jeito. Eu vejo como você fica quando está com a Andie. É diferente como você a olha. Deixaria a Jen se sentindo Betty, a feia. Você a ama muito não é?
D: - Sim Joey. Eu amo demais a Andie. E não sei te explicar o motivo nem como aconteceu.
J: - Eu compreendo.
D: - Joey, você precisa descansar. Eu prometi ao Pacey que cuidaria de você.
J: - Irônico, não? – olha para o Dawson com um sorriso triste e sarcástico – Ele pedir para você cuidar de mim. Foi assim que a coisa ficou feia pro seu lado. Quando você pediu pra ele cuidar de mim. Os papéis se inverteram?! – pausa – Bem, Dawson, eu vim te pedir perdão e esclarecer as coisas naquele dia. A queda da escada facilitou a situação de certa forma. Eu não queria aquele bebê. E eu me sinto a pior pessoa do mundo...
D: - Não fala assim Joey. Você sabe que não é essa pessoa.
J: - Claro que amava meu bebê. Mas ele era tão indefeso! Estava chegando num momento tão tumultuado. Numa fase em que eu estava me resolvendo. Um ser tão delicado e puro não merecia chegar ao mundo e encontrar seus pais tão distantes um do outro. Tudo bem, eu cheguei a pensar que ele poderia melhorar as coisas. Mas logo vi que não melhoraria. Eu sou tão egoísta! Não mereço o amor do Pacey. Não mereci o seu amor, Dawson. Nem merecia o bebê. Acho que o destino mexeu seus pauzinhos e me ajudou a não ter tanto peso na consciência. Não sei se terei coragem de engravidar novamente. Esse não é o problema da hora. A questão do momento é que não amo o Pacey como pensei que amasse.
Joey dá um passo a frente e encara o Dawson. Seus olhos de dor embaçam com o acúmulo de lágrimas. Joey agarra o Dawson num abraço apertado. Meio minuto depois ela o solta e ainda muito próxima, com as mãos segurando forte o ombro dele, finalmente deixa as duas grossas lágrimas caírem sobre seu rosto.
J (olhando firme nos olhos dele): - Dawson, eu escolhi a pessoa errada, entende? Eu te amo acima de qualquer pessoa. Sempre te amei. E tenho certeza que sempre te amarei incondicionalmente.

Na cozinha Andie coloca pipoca numa grande tigela. Em seguida se dirige a varanda onde Pacey estava deitado numa rede com a cabeça pendendo para baixo. Andie senta no chão de frente para a cabeça inclinada do amigo.
Andie: - Pipoca?
Pacey apenas murmura algo parecido com um ‘não’. Ela enche a mão com algumas pipocas e as leva a boca. Examinando a cabeça vermelha do Pacey enquanto mastiga.
A: - Pacey, sua cabeça vai explodir. Pára com isso.
Ele finge que não escutou. Andie se irrita e joga uma pipoca na testa dele. Pacey se remexe minimamente na rede, mas continua calado e na mesma posição. Andie continua comendo a pipoca no seu lugar. Vez ou outra joga mais alguma pipoca nele.
Pacey: - Me deixa! – careta.
A: - Não! Gira sua própria cabeça 180° para enxergar o Pacey no mesmo ângulo. – Você precisa reagir. Ficar assim não vai melhorar.
Pacey a olha e levanta abruptamente. Tão de repente que não deu tempo da Andie tirar a sua cabeça do caminho. Duas testas se chocaram numa velocidade violenta.
A: - AU! – mão alisando a própria testa.
P: - Grr... sai do caminho, McPhee! – corre para a sala e liga o aparelho de som. Põe um cd de salsa caribenha. Puxa a mão da Andie e a conduz nuns passos estranhos, mas que tentam imitar a dança característica ao ritmo da música.
Andie faz uma pequena careta de surpresa e divertimento.
A: - Pode me soltar, ‘Johnny Castle’? – rindo
P: - Ah, qual é... você consegue ‘Baby’! – concentrado nos passos - Eu aprendi isso com uma garota quando estive trabalhando de marujo para o reitor, amigo da Joey.
A: - Aprendeu? Tem certeza? – pisando no pé dele sem querer. – Opa, desculpa.
Pacey finalmente pára com a dança e diminue o volume do som. Joga-se no chão e deita. Andie de pé revira os olhos com indignação.
A: - Não pisei tão forte assim. Ah, vamos lá. Eu não estava indo tão mal, estava?
P: - Shhh... – dedo indicador pressionando os lábios. – Tenho uma coisa pra te mostrar. Não ia pensar nisso nem tão cedo, mas mudei de idéia. – pega a carta de inscrição da faculdade comunitária de Capeside e entrega a Andie.
A (abre um enorme sorriso): - Paceeeey, isso é maravilhoso!
P: - Não é uma aceitação. Ainda tenho que me dar bem na prova.
A: - Mas isso é o mais fácil.
P: - Claro! Para você CDF.
A (faz careta): - Você sabe que pode ser muito fácil pra você também.
P: - Não sei, Andie.
A: - Qual é? Eu te ajudo! Como nos velhos tempos!
Pacey sorri e Andie dá uma tapinha de leve no braço dele.

O vento e a chuva ficam mais intensos e todos habitantes da cidade se vêem obrigados a ficarem presos em casa ou nos seus trabalhos.
Dawson entra depressa com Joey na casa. No andar de cima Lily chora na cama ao lado da Gale, enquanto sua mãe a consola. Dawson leva Joey ao quarto de visitas onde ele está alojado nessas semanas de férias. O quarto é pequeno e simples, mas tem algumas características do Dawson. Uma tv e um dvd disposto em frente a pequena cama de solteiro. Dawson senta na cama e tira os sapatos. Joey o imita.
D: - Agora você precisa dormir um pouco. Já fez esforço demais, não acha? Eu vou ligar pra Bessie e avisar que você está aqui.
J: - Eu deito, mas não quero dormir, ok?
D: - Tudo bem. Vemos um filme então?
J: - Hmm, ótima idéia. Sair da rotina! – sorriso sarcástico.
D: - Isso. – sorrindo – procurando um filme na coleção de dvds que carrega na mala.
Dawson põe ‘Antes do pôr-do-sol’ e senta numa cadeira ao lado da cama onde a Joey está deitada. O filme começa. Ele observa o rosto desolado da Joey. Um flash-back passa em sua cabeça. Ele com a Joey filmando ‘O monstro do lago’, ele e a Joey dando o primeiro beijo de frente a sua janela, os dois terminando o namoro por causa da prisão do pai da Joey, depois a primeira vez deles em Boston, os dias em que ela passou na sua casa em L.A. Ele imaginou como algumas coisas poderiam ter sido diferentes se ele tivesse agido de forma diferente também. Mas Dawson não estava arrependido de absolutamente nada. Principalmente por que se não fosse tudo isso, talvez ele não estivesse namorando a Andie hoje. E estar com ela foi a melhor coisa que lhe aconteceu desde a morte da Jen. Foi melhor do que conhecer o Spielberg. Ele estava muito feliz, totalmente realizado. Amava sua namorada e havia se tornado um diretor de cinema bem sucedido. Dawson olhou novamente para a Joey e viu que nesse momento sua felicidade não era completa. Sua melhor amiga estava sofrendo. E ele não poderia fazer muita coisa para ajudá-la. Já que o que ela queria no momento era ele. E ele apesar de lutar com todas as forças para querer mudar os fatos, não a queria da mesma forma.

Pacey e Andie estão sentados na mesa de jantar redonda do apartamento. A chuva faz um enorme barulho ao bater no vidro da janela. Isso fazia o Pacey se desconcentrar a cada minuto. Os livros estavam dispostos em cima da mesa. Andie tentava passar para o Pacey todas as matérias da prova de admissão da faculdade comunitária. Pacey bate propositalmente a cabeça na mesa.
Pacey: - Eu não vou conseguir.
Andie: - Claro que vai, Pacey.
P: - Faz anos que não vejo álgebra nem literatura.
A: - Se você se concentrasse seria mais fácil.
P: - Como eu posso me concentrar com esse barulho. – aponta para a janela.
A: - Eu sei bem que não é isso que está te atrapalhando. – expressão séria.
P: - É você sabe. Então vamos parar ok?
A: - Só por enquanto. Mas vamos continuar mais tarde. Você sabe que organização é disciplina fundamental na hora de estudar.
P: - É, é... Eu sei McPhee.
A: - Pacey, não fica assim.
P: - Andie, você não entende? Eu acabei de perder o meu filho e provavelmente a Joey também.
Andie o olha tristemente e segura sua mão sobre a mesa. Ele aperta as mãos dela e baixa à cabeça.
P: - Eu estava muito esperançoso com a chegada do bebê. Pensei que ele traria a alegria de volta para mim. Mas minha esperança morreu com ele. Sei lá, eu sinto que a Joey está diferente comigo. Apesar de eu ainda a amar com a mesma intensidade de sempre, eu sinto que ela não me ama do mesmo jeito. Tenho tentado fechar os olhos para algumas atitudes inadequadas dela, no entanto meu coração não pode suportar tanta dor. E eu não sei o que fazer. Não quero fugir dos fatos. Quero enfrentá-los e ser forte. Quero reagir e seguir em frente.
A: - Oh, eu sinto muito. Se eu pudesse te ajudar...
P: - Você não pode dessa vez, Andie.
A: - Por que não?
P: - Você está envolvida demais nesse rolo todo.
A: - O que você quer dizer com isso?
P: - Dawson.
A: - Ouh...
P: - É, eu tenho certeza que a Joey está balançada. Eu percebo. Só fico quieto porque eu sei que o Dawson não faria nada que me prejudicasse.
A: - Ao contrário de você, né...
Pacey olha duramente para ela.
A: - Desculpa, mas é verdade. Você foi um péssimo amigo quando roubou o amor da vida dele.
P: - Eu só segui o meu coração.
A: - Você foi egoísta.
P: - Está dizendo que eu deveria ter aberto mão dos meus sentimentos?
A: - O verdadeiro amor é maior do que o desejo e a ambição. Abrir mão da Joey naquela época não só seria um ato heróico como uma prova de lealdade ao seu melhor amigo.
P: - Talvez você esteja certa. Tudo que eu queria era ter a Joey. E olha como estou hoje. Continuo sem tê-la apesar de tudo que tive que passar.
A: - Tudo poderia ter sido diferente.
P: - Eu poderia ter te perdoado também. Hoje nem consigo entender porque não continuei com você.
Andie baixa a cabeça e fita o livro que está na sua mão.
P: - Hoje vejo que o que você fez na clínica não foi nada demais, mediante a situação em que você se encontrava. Tão fraca, tão sozinha, tão vulnerável e desamparada. Desculpe-me.
A: - Não tem nada do que se desculpar. Eu entendo o que você sentiu. E fui fraca mesmo. Mas nunca deixei de amar você.
Pacey a olha assustado.
A: - Opa. Falo daquela época, nunca fui capaz de diminuir meu amor. Mesmo fazendo o que fiz na reabilitação. Mesmo com o passar dos anos. Mesmo indo embora. Bom, até que...
P: - Você se apaixonou pelo Dawson.
A: - Isso.
Pacey sorri e suspira ao mesmo tempo. Olha amavelmente para o rosto lindo e tranqüilo da Andie. Pensa em como poderia ter sido diferente se a tivesse perdoado e continuado com ela. Como deveria ter sido passar três meses com ela velejando no True Love? Talvez hoje eles estivessem morando em algum país europeu com seus filhos loiros de os olhos verdes. Pacey sorriu e balançou a cabeça para espantar os pensamentos.
A: - O que foi?
P: - Nada. Só pensando... Já conheceu alguém de quem não se consegue esquecer? Alguém que lhe faz perguntar a si próprio, o que poderia ter sido?
A: - Sim, na verdade num filme do Richard Linklater. Jesse e Celine se reencontrando.
P: - É, você e o Dawson devem se dar bem...
Os dois caem na gargalhada.

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